Identidade, Cultura e História



I - Histórias Ouvidas









 O Grande Amor

Era uma vez uma tribo que vivia no meio da floresta. Neste lugar, os índios preservavam a sua cultura e tradição.

A pequena aldeia ficava próxima de um grande rio e todas as noites os membros da tribo se reuniam ao redor de uma grande fogueira para ouvir as histórias de seu povo.

O pajé tinha uma filha, uma linda índia sonhadora. Pelas manhãs, ela ia se banhar no rio e se distraía por horas, ouvindo os sons e melodias produzidas pelo vento.

Ela se encantava com as coisas simples que via, o nascer do sol, o desabrochar de uma flor, os coloridos das borboletas.

Sentia em seu coração que não era igual às outras jovens da sua tribo, achava que algo diferente a esperava porque sonhava um dia sair daquele lugar e conhecer o mundo.

Foi então que, passando pelas colinas, observou que lá embaixo, às margens do rio, acabara de atracar uma pequena embarcação e nela havia alguém muito diferente. Seus cabelos eram amarelos como o sol, sua pele reluzente, suas roupas extravagantes e seu andar imponente. Trazia algo sobre sua cabeça que impedia que se contemplasse sua face.

Porém, de repente, o céu escureceu e as nuvens trouxeram o anúncio de uma grande chuva. Então a bela índia se viu obrigada a procurar um abrigo e voltar para a sua tribo.

Durante três dias, a chuva regou a terra, encheu os rios e os campos, não sendo possível realizar nenhuma tarefa para a aldeia.

Passado esse tempo, a jovem, cansada de imaginar quem era aquele que tirava sua paz, decidiu voltar ao local onde tivera aquela intrigante visão.

Ao chegar lá, para sua surpresa, nada encontrara, mas, quando já estava indo embora, ouviu um ruído entranho e estava lá aquele que trouxera inquietação ao seu coração.

Nesse momento o jovem rapaz percebeu estar sendo observado. Ficou admirado com tamanha beleza e tentou se aproximar.

– Não tenha medo - disse ele - Eu não vou te fazer mal. Qual é seu nome? Por favor, você pode me ajudar? Fiquei preso aqui por causa da chuva - gritou.

Ela tentou fugir, mas ficou preocupada com o pedido de ajuda.

– Raíra - respondeu ela.

– O quê? - o jovem perguntou novamente, descendo da árvore.

– Me chamo Raíra.

– Você é linda! - disse o rapaz.

Raíra tentou fugir, quando o rapaz ofereceu um espelho de presente. Raíra se encantou em ver seu rosto pela primeira vez naquele objeto estranho.

Eles conversaram por horas. Ela lhe ensinaria sua cultura, o amor e respeito pela natureza, e ele, seus costumes.

A partir daquele dia, eles se encontravam todas as tardes às margens do grande rio.

Um belo dia, o rapaz decidiu trazer uma caixa cheia de presentes para a sua amada, dentro havia vinho, livros e um belo vestido nunca usado antes. Os olhos de Raíra se iluminaram como a luz do luar. Agora já não existiam mais dúvidas, o seu destino era ao lado do homem de cabelos como raio de sol, e era através de suas histórias decidiram conhecer o mundo.

Os dias passaram e eles decidiram enfrentar todas as dificuldades e diferenças para ficarem juntos.

O pajé, a princípio não aceitava, mas percebeu que não havia nada que pudesse fazer para afastá-los e acabar com aquele amor tão puro de seus corações.

Eles se casaram e tiveram filhos e filhas e permaneceram na aldeia. Tempos depois, numa noite estrelada, todos estão ao redor da fogueira como de costume e uma linda história começa a ser contada relatando que, há 50 anos atrás, ali nas margens do grande rio, iniciava-se uma diferente e surpreendente história de amor.



Grupo: Sebastiana, Josefa, Alessandra, Dameana e Alda.
 

Assombrações

Numa fazenda morava uma família que tinha um filho que não tinha medo de nada. Todo dia terminava a lida na fazenda, ele ia para um povoado e voltava tarde da noite. Seu pai, preocupado com ele, sempre falava: "Filho, não sai à noite, é perigoso!" Mas o garoto não ligava, pois não tinha medo, seu pai então teve uma ideia: pegou um lençol, enrolou em seu corpo, deixando só os olhos de fora. Depois, ficou no pé de um cruzeiro, que tinha na beira da estrada.
Não demorou nada lá e já veio o garoto assobiando sem medo nenhum. Quando chegou perto do cruzeiro, ele parou, olhou, olhou e disse:
– Engraçado, meu pai sempre falou em assombração, mas aqui estou vendo uma assombração embaixo e outra em cima.
Nisso o velho olha de rabo de olho para cima e vê uma assombração em cima do cruzeiro.
E o garoto gritou:
– Que estranho! Corre o fantasma grande na frente e o pequeno atrás!
Quanto mais o “fantasma grande” corria, mais o outro corria atrás, a ponto de deixar o chinelo para trás.
Chegando em casa desesperado, o “fantasma” apavorado nem colocou a chave na porta, derrubou-a com um pontapé. Quando entrou, viu enrolado numa fronha o macaco de estimação. O pai ficou muito bravo, pois a outra assombração era o macaquinho. Ele resolveu matá-lo, mas ninguém poderia ficar sabendo disso, pois iam ficar sabendo que a assombração que o filho viu era ele.
Passaram uns dias e o pai foi fazer a barba. Passou o creme de barbear, pegou a navalha e começou a fazer a barba. Quando ele olhou no espelho, viu o macaquinho, observando tudo que ele estava fazendo. Aí o pai pensou: "E agora?" Ele fez a barba, passou o lado contrário da navalha no pescoço, deixando o macaco só olhando. O pai saiu e deixou a navalha em cima da pia, o macaquinho muito sabido fez o mesmo: passou o creme, pegou a navalha e raspou toda a cara. Quando terminou, pegou a navalha,  passou no lado cortante no pescoço e morreu.
Fim da história. Ninguém ficou sabendo que a assombração era o pai e o macaquinho. E o filho? Deixou de sair à noite? Essa é uma outra história!

Grupo: Alessandra, Maria do Carmo, Telma, Elza e Iolanda.

 A aposta

Conta-se que, em uma cidadezinha, havia um grupo de rapazes formado por amigos inseparáveis, que viviam aprontando e pregando peças uns nos outros.
Todas as noites os rapazes se reuniam na pracinha da cidade, planejando as travessuras que iriam praticar. Até que tiveram a ideia de apostar qual deles teria coragem de, à meia-noite, ir ao cemitério da cidade. Lá deveria pregar um prego no cruzeiro, que ficava bem nos fundos do cemitério.
Todos disseram:
– Só isso? Vai ser moleza pra nós! Amanhã o cruzeiro amanhecerá crivado de pregos.
Discutiram entre eles, cada qual se achando mais corajoso que o outro. Chegaram até a se desentenderam seriamente, como sempre acontecia, até que chegaram a um acordo. Combinaram o seguinte: se preparariam e se encontrariam no cruzeiro do cemitério, à meia-noite, cada um levando seu prego e seu martelo, para pregar o prego no cruzeiro. E assim ficou combinado.
Naquela noite, chovia muito e havia muita neblina. Também havia fortes trovões acompanhados de muitos relâmpagos que pareciam rasgar o céu. Era uma noite assustadora.
Todos os rapazes se vestiram com longas capas, para se protegerem do mau tempo, se muniram com pregos e martelo e se puseram a esperar a meia-noite. Cada qual em sua respectiva casa, uma vez que iriam seguir separadamente para o cemitério.
Então, aconteceu que alguns pegaram em sono profundo, outros foram, mas desistiram no meio do caminho, pois estavam com muito medo. Enquanto só um deles seguiu em frente e chegou ao cruzeiro do cemitério, com seu prego e seu martelo. Tremia de medo e de frio. Estava com muita pressa, querendo sair logo daquela escuridão danada, onde nada se via.
Com o vento assoprando, chuva caindo, estrondosos trovões e relâmpagos traçantes. O rapaz pregou o seu prego no cruzeiro do cemitério, sendo que, ao tentar sair correndo daquele lugar, pois estava morrendo de medo, sentiu que algo o agarrava com força. Então gritou:
– "Me larga! Me solta! Eu peço perdão!"
E nada, continuava preso ao cruzeiro.
Até que chegou a hora de todos se reunirem na praça e foi sentida a sua falta. Saíram todos à sua procura até que chegaram ao cemitério, onde o encontraram morto. Havia pregado a sua própria capa.
Não se sabe se ele morreu de frio ou de medo. A aposta foi ganha ou não?

            Grupo: Celina, Solange, Adriana, Maria Aparecida F. Carvalho e Marlene.

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II - Histórias Vividas







Uma história de um fato real: lobisomem
Iolanda Mariano de Almeida

Todos os dias eu saía da casa da minha mãe e ia para a casa da minha avó porque eu e meus irmãos morávamos com nossa avó e meu tio Oreste, que faleceu há pouco tempo.
Um dia, eu, minha irmã Marlene, que também é falecida, meu irmão Izaquel, que mora ainda no mesmo lugar, vimos o lobisomem. Estávamos saindo da casa da minha mãe e indo para a casa da vovó Marina, quando nos deparamos com um bicho grande, igual a um cachorro, de olhos vermelho e orelhas enormes. Começamos a gritar. Ele rodava a cabeça e ficava nos cheirando e observando.
Minha avó, escutando os nossos gritos, pediu para o tio Oreste ir ver o que estava acontecendo. Ao ver meu tio se aproximando com uma foice na mão, o bicho ficou desesperado e saiu correndo pela estrada afora.
Meu tio chegou perto da gente, perguntou se estava tudo bem e nos levou para casa. Chegando em casa, vovó Marina nos deu água com açúcar. Nessa época, eu só tinha cinco anos. Nunca me esqueço do aperto que passamos.
Minha vó falou que era um lobisomem e, por ser tratar de uma pessoa conhecida, não fez nada com a gente, ficou só nos olhando.
Cresci contando essa história para todos que conhecia. Quando me casei, contei para o meu esposo e, depois que tive meus filhos e eles cresceram, contei para eles também. E continuo contando até hoje quando eles me pedem.



Entre o medo e a coragem
Celina C. C. Holanda
Esta história é verdadeira, aconteceu comigo.
Eu trabalhava em uma indústria (Companhia Industrial Ferrini), que ficava há 3 km de minha casa. Eu saía muito cedo de casa e só chegava quando já estava muito escuro. Percorria toda esta distância a pé, tanto de ida quanto de volta para casa, pois, naquela época, não havia horários de ônibus disponíveis como hoje. Também, caso houvesse, eu não teria como pagar as passagens, uma vez que meu salário mal dava para ajudar no sustento da casa, onde morávamos eu, minha mãe e meus irmãos.
Nessa época, meu pai já havia falecido. Querendo ou não, eu tinha que fazer todos os dias este percurso a pé, sendo que não havia horário de verão assim como hoje, portanto, já estava muito escuro quando eu chegava em casa.
Bem, a história é a seguinte:
Vinha eu, já com um medão danado, pela escuridão, sozinha e Deus. Quando de repente, de longe, avistei um vulto branco, vindo em minha direção. Então comecei a suar frio, a ficar ofegante, o meu coração parecia que ia saltar pela boca. Não ficou um só fio de cabelo do meu corpo deitado no seu devido lugar, me arrepiei toda, fiquei parecendo uma ouriça. Quase me borrei.
A assombração avançava mais e mais em minha direção. Fiquei paralisada, mas pensei: “Ah, meu Deus, vou voar nem mesmo sei pra onde. Tô frita!”
Fechei os olhos e pensei mais uma vez: “Seja o que Deus quiser”.
Então, o vulto branco, que saltitava e parava, chegava cada vez mais próximo de mim. Finalmente, me abraçou. Não sei de onde tirei tanta força para gritar: “Meu Deus! Me ajuda! Agora lascou!”
Foi aí que tomei coragem e abri os olhos. E, para minha grata surpresa, era simplesmente uma folha de jornal.
Graças a Deus!!!
OBS: Por um lado, isso que me aconteceu, me fez muito bem, pois nunca mais tive medo de assombração. Hoje, sim, tenho muito medo dos "vivos". Os noticiários estão aí, todos os dias, mostrando o terror causado pelos "vivos".



Um “causo” do meu pai
Maria do Carmo de Paula Carvalho

Essa história é bem interessante.
Meu pai, como bom mineiro, adorava cantar “causo”, como ele dizia. E a história sempre era contada ao redor de um velho fogão à lenha que tinha em minha casa, enquanto esperava a broa de milho enrolada na folha da bananeira ficar pronta.
– E a história é essa - dizia meu saudoso pai.
Um senhor pedreiro famoso, era adorado pelo seu superior e amigos.
Todos o contratavam para trabalhar fazendo coisas. Ele fazia tudo com o maior capricho, muito bem acabado, mas foi passando o tempo e ele foi ficando velho. Decidiu parar de trabalhar, todos ficaram muito tristes por perder um grande profissional de obras, mas, enfim, o pedreiro estava mesmo decidido.
Passou um bom tempo e seu chefe procurou por ele e disse:
– Por favor, queria que o senhor fizesse a última casa para mim.
E ele disse que não. Mas o chefe foi embora e o pedreiro, com seu o seu cigarro de palha, ficou matutando, matutando. Resolveu fazer a tal casa, só que ele fez de qualquer jeito, meio tortinha, telhado mal feito, piso mal colocado, somente para agradar o chefe. Não demorou muito e a casa estava pronta. Aí ele chamou o chefe da obra e lhe disse:
– Está pronta a casa que o senhor pediu.
O chefe emocionado deu a ele uma chave e ele, encabulado, perguntou:
– Que chave é essa?
E o chefe respondeu:
– Esta casa é tua.
Moral da história: tudo que vamos fazer, temos que fazer bem feito para não nos arrepender, como o velho pedreiro.
Essa história se relaciona com a realidade da vida da gente e me faz lembrar de meu saudoso pai, contador de ‘causos”.




Trabalho no Canil
Ivonete de Fátima da Costa
O que tenho para contar ocorreu em um período de minha vida que, para mim, foi muito importante, porque adoro animais.
Trabalhei por um bom tempo em um canil que existia aqui em Paulo de Frontin, na estrada de Sacra Família. Era um canil improvisado por um casal de pessoas de coração muito bom. Lá existiam uns cem cães de todos os portes, cores e raças diferentes, cada um com sua história de vida: uns dóceis, outros calmos e sonolentos, outros com ciúmes de suas crias, mas todos trazendo sua história de vida, a saudade e a tristeza do abandono de seus antigos donos. Vagavam até encontrar alguém que os resgatasse e os levasse para o canil. Lá eles eram tratados e alimentados. Lá recebiam o carinho de todos nós.
Hoje esse canil não existe mais aqui em Paulo de Frontin. Foi para outro lugar com os mesmos donos. Sinto saudades de todos porque eles fizeram parte da minha vida e eu tinha um carinho especial por cada um deles.




Marco Importante: Meus Filhos
Elza Anna dos Santos Silva


Marco importante em minha vida foi o nascimento do meu filho e de minha filha. Foram em datas diferentes, mas foram mudanças importantes.

Aprendi e aprendo a cada dia a importância do Amor. Antes de ser mãe, eu era apenas uma menina que não pensava no dia de amanhã, queria apenas curtição e algo que não me acrescentava em nada.

Após ser mãe por duas vezes, sei como é “Amar”. Hoje sou formada na área que sempre quis ser, tenho uma família maravilhosa, dou orgulho aos meus pais e me sinto bem comigo mesma.

É por isso que digo: “Marco da minha vida, hoje e sempre, são os meus filhos Yuri e Yanni”.

Por eles amo a vida e curto a cada dia os seus “desenvolvimentos”, por eles passei a ser uma mulher produtiva. Agradeço a Deus, a cada dia, por ter marcado “a minha vida” com esses presentes.




O trator
Andrea Souza
 Morávamos em Barra do Piraí. Eu tinha uns quatro anos de idade e morria de medo detrator, daqueles que cavam e colocam a terra em cima do caminhão. Um dia, foram fazer uma obra na rua da minha casa e, logo cedo, quando acordei, ouvi o barulho da máquina. Comecei a chorar muito. Gritava para minha mãe ligar a televisão no volume máximo para abafar o barulho do trator.
Sempre que vejo uma máquina dessas me lembro da cena: eu chorando, gritando e pedindo a minha mãe para ligar a televisão bem alto.


A fogueira e a história


Alessandra Soares Deite


Eu, minhas irmãs e primas gostávamos que minha avó contasse histórias para a gente na beira da fogueira. No dia em que ela ia contar a história, nós íamos para o mato catar lenha e deixar a tarefa de casa pronta. Era quase o dia todo. No mato, minha avó ia também e minha tia. Chegávamos do mato, arrumávamos a lenha direitinho.

A noite chegava, ficávamos ansiosas para começar o conto de fadas. Minha avó arrumava a lenha no chão, acendia e começava a contar o que mais nós gostávamos: era a história do sapo que queria voar. 
Depois da história, a gente ia dormir contente e feliz.

A menina e o jornaleiro

Maria Aparecida Carvalho

Era uma vez uma menina que estudava no grupo escolar João Kopke. Tinha 11 anos e adorava ler gibis, revistas etc. Na cidade tinha um jornaleiro que se chama Catarino, hoje um senhor de oitenta anos. Não era uma banca de jornal, era um bar que vendia revistas, jornais, doces, salgados, cachaça, cerveja. Também vendia picolé redondo, que era uma delícia!
Todos os dias eu ia lá comprar revistas, mas tinha um detalhe: as revistas eram compradas fiado, só pagava no final da semana, o porquê eu não sei, mas tudo bem. Um dia, ele falou:
– Menina - até hoje ele me chama assim - não vou te cobrar mais as revistas. Arrumei uma pessoa que vai trocar as revistas com você.
Eu fiquei muito feliz! Até hoje eu sou freguesa dele, que tem uma banca de jornal na Rodoviária. Atualmente minhas netas vão comprar figurinha e adoram o seu Catarino.


Aprendendo a costurar
            Feliciana Raimundo Alves

Fui nascida e criada no interior. Na minha casa não havia luz elétrica. Eu era uma criança que gostava muito de brincar de boneca, minha vida era fazer roupas para minhas bonequinhas.
Só tinha uma atividade durante o dia: eu ia pra escola. No outro horário, brincava com meus irmãos e irmãs. À noite, eu ia fazer as roupas das bonecas com a luz de lampião. Ficava escuro, mas eu fazia assim mesmo.
Meus pais e meus irmãos iam dormir e eu ficava sozinha, fazendo vestidos para as bonecas de pano, coisa que eu gostava muito. Meus pais não podiam me dar boneca boa porque eles eram muito pobres. Eu tinha muitos irmãos e irmãs e só meu pai trabalhava lá em casa. Mesmo assim, eu era muito feliz com minhas bonequinhas de pano. Gostava muito delas.
E assim aprendi a costurar, valeu muito!




Trançados de palha
Nilda Ferreira de Matos

Eu me lembro de um tio avô que se chamava Doco, acho que seu nome era Rodolfo, não tenho certeza. Mas sei que era um homem humilde, irmão da minha avó paterna. Ela se chamava Almerinda.
Tio Doco era deficiente da perna, mas era muito inteligente e trabalhador, morava na casa da minha tia. Ele ia toda semana na minha casa. Lá ele lia Bíblia e contava muitas histórias para nós. Ele tinha mãos maravilhosas para tecer cestas, balaios, peneiras. Naquela época, não havia ninguém que trabalhasse com isso que eu soubesse.

Além de tecer cestos e peneiras, ele também dava aula para os analfabetos do bairro onde morava. É uma pena que ninguém da família tenha aprendido o seu ofício. E tudo ficou só na lembrança quando ele se foi.


Minha primeira boneca
Josefa da Silva Soares


Aos meus 9 anos sempre ia para roça com meus pais. Por recompensa por ajudá-los, ganhei um pedaço de terra para plantar algo que me interessasse.

Certo dia quando regava e limpava minhas plantas, coloquei a mão em uma delas e uma jararaca me mordeu. Logo fui com minha mãe para o hospital, fiquei um mês inteiro internada. E o que me fazia chorar era a saudade dos meus pais, pois nunca tinha me separado deles.

Era Natal. No hospital, eu ganhei uma boneca. Foi a primeira boneca da minha vida, pois nunca havia ganhado uma boneca para mim. Foi a maior felicidade da minha vida.



O R$eal
Marlene Gonçalves Seabra Iotti

Já era noite, eu me senti cansada e com sono. Fui dormir. Passaram algumas horas e meu marido chegou. Ele se preparou para dormir. Quando ele chegou no quarto, ia se deitar no seu lugar na cama. Eu comecei a gritar e a apalpar o lugar vazio da cama. Diz ele que eu gritava muito:
– Cadê ele? Cadê ele? Cadê ele?
Ele me perguntava:
– Ele quem? Ele quem, Marlene?
Então eu acordei e comecei a rir muito. Aí eu respondi:
– O Real, um velho de cabelos brancos, que estava ali dormindo do meu lado.
Isto aconteceu na época da transição do cruzeiro para o real.

Era bom ser criança
Cátia da Conceição Souza

Como era bom ser criança, tinha muitas brincadeiras muito legais.
Brincávamos juntos com outras crianças, íamos para o morro pegar folha de palmeira para escorregar. Muitas coisas de infância podiam continuar existindo hoje para que todas as crianças fossem mais felizes, tivessem contato com a natureza e se desligassem deste mundo.
Já brinquei de fazer comidinha de barro, pique-esconde, amarelinha de elástico etc. Eu era bem teimosa. Lembro-me de um dia em que eu e minha irmã afogamos um patinho nosso. Minha mãe me bateu, mas mereci, né?
Fui muito feliz na minha infância. Que pena que não volte mais!


Tempos de criança

Sabrina Lourenço da Silva



Bons tempos em que não havia nenhuma preocupação.
Foi uma época muito boa, em que podíamos brincar sem nos preocupar com as contas para pagar e os problemas do dia a dia.
Era muito bom estar com os amigos de escola, reunidos em alguma atividade ou até mesmo conversando, pois hoje já não é assim, o tempo passa, as coisas mudam, cada um toma o seu próprio rumo. Aí descobrimos uma coisa importante: só permanece a verdadeira amizade.
Quando somos adultos, somos capazes de conhecer melhor as pessoas e vermos que aqueles amigos de infância não eram tão amigos assim, mas as lembranças são boas, pois apesar dos não amigos, ainda existem amizades que duram.
Por isso, nunca vou me esquecer dos meus tempos de criança.






A Noiva
Rosângela Cardoso Moreira

Quando eu tinha dezesseis anos, minha vida era muito chata. Meu pai e minha madrasta não deixavam que fizesse nada que quisesse. Um dia, foi trabalhar perto de minha casa um rapaz bonito. Foi quando eu tive a ideia de me casar. Aí eu falei com minha madrasta, que já estava doida para se livrar de mim, e ela se propôs a me ajudar, fazendo nossos encontros.
Eu, toda boba, pensei: “Assim que me casar, vou fazer tudo que tenho vontade: fazer sobrancelha, pintar a unha de vermelho, beber, passear”.
Após os quatro meses de namoro, nós ficamos noivos e, mais uns quatro meses, marcamos o casamento. Meu pai ficou todo feliz, pois eu ia me casar com um ferroviário.
Começaram os preparativos do casamento: muita fartura, muita comida e bebida, e um bolo enorme. O vestido era lindo. Minha cunhada, que era madrinha do casamento, combinou que chegaria mais cedo para me arrumar. Eu pensei: “Bem, eu já me casei no civil às onze horas, agora, que são duas horas da tarde, vou começar a beber cerveja, vinho e outras coisas”.
Fui para um cômodo da casa e comecei a beber. O casamento estava marcado para as dezoito horas. Quando minha cunhada chegou e me achou bêbada, me levou para o banho. Eu não aguentava nem ficar em pé, mas mesmo assim, ela me vestiu o lindo vestido de noiva. Eu caía e ela me levantava. Ela dizia: “Você vai casar de qualquer jeito, pois não vai fazer meu irmão passar essa vergonha”.
Assim eu fui. Quando já ia saindo do carro para entrar na igreja, eu quase caí. O marido dela me segurou pelo braço e disse: “Respire fundo que você vai melhorar”. E eu segui em frente. Quando eu estava diante do altar, não teve jeito. Comecei a vomitar, e foi a maior vergonha.
Quando o Padre parou o casamento, me levaram para a sacristia para trocar as toalhas e limpar meu vestido. Quando estava tudo limpo, o Padre nos chamou e recomeçou a cerimônia. Só se ouviam comentários na Igreja, cada coisa horrível que falavam de mim! Mas eu não me importei com isso não. Estou casada até hoje com o mesmo marido, há trinta e sete anos.




O Chicote do Papai

Ana Pinto Borges


Éramos cinco irmãos, duas meninas e três meninos. Gostava de jogar bola de gude, mas nosso pai não gostava que menina brincasse com menino, mesmo sendo irmãos. Ele saía para trabalhar e nós corríamos todos para jogar gude. Quando eles perdiam, brigavam comigo. Minha mãe não zangava por isso.

Um dia meu pai chegou mais cedo. Ele pegou o chicote para bater no meu irmão mais novo, o mesmo que deu banho no meu boneco de papelão, meu primeiro e único brinquedo. Nosso pai pegou no braço dele e nós pegamos no outro. Era puxa pra lá e puxa pra cá. No final, todos nós apanhamos, menos ele. Fomos todos chorar no quarto.

O tempo passou. Certo dia, nosso pai bateu no meu irmão caçula novamente. Eu chorei muito porque minha mãe nunca defendia os filhos. Ela achava que era certo pai e mãe baterem em criança, que estavam educando.

Quando completei dezesseis anos, sem que ninguém soubesse, peguei o chicote e joguei longe. Nunca mais meu pai viu seu chicote. Ele perguntava, mas ninguém sabia informar.

Depois que ele faleceu, eu, com meus trinta e oito anos, falei que tinha sido eu a dar fim àquele chicote. Hoje, achamos graça das artes e de tudo que aprontávamos. Hoje somos felizes.


Minha Infância
Alessandra Paula de Carvalho

Era uma vez, não, não era uma vez, porque não é um conto de fadas. É a história da minha infância. Ou o que eu me lembro dela.

Pra começar eu sou a terceira de quatro filhos. Minha irmã dizia que minha mãe queria um menino e não outra menina, devia ser para agradar o meu pai.

Ela acordava cedo para ir trabalhar e ficávamos em casa, esperando que chegasse. Às vezes íamos para a estrada com minha mãe esperar por ele.

Morávamos em uma casa no meio do mato, sem luz. A água, tínhamos que buscar no poço. Do outro lado da estrada, tinha o rio que passava por toda a cidade.

Eu não gostava de buscar água, sempre voltava molhada com a panela quase vazia. Minha mãe olhava pra mim e perguntava: “Cadê a água?”

Minha irmã mais velha ria e a outra chorava porque ela teria que voltar e buscar mais água.

Não tínhamos muita coisa, mas eu me lembro de um guarda-roupa preto enorme que já estava na casa quando fomos para lá. Minha mãe adorou tanto que não deixava a gente ficar abrindo e mexendo nele.

 Numa tardinha, quando ela saiu para encontrar meu pai, resolvi que iria ver o que tinha naquele armário. Chamei minha irmã para me ajudar, ela ficou com medo porque meu pai sempre batia nela e tinha pena de bater em mim.

Sozinha, eu peguei uma vela, acendi no fogo e fui para o guarda-roupa ver o que tinha dentro. Estava procurando, quando escutei o cachorro latir no quintal. Só me lembrei de fechar as portas e corri para a sala. Quando ela sentiu o cheiro da fumaça, já tinha queimado uma parte das roupas velhas dela. Ela e meu pai ficaram jogando água e eu, desesperada, pensei em chorar ou correr. Mas ir para onde àquela hora? Tinha medo de andar no mato sozinha. Fiquei escondida debaixo da cama e acabei dormindo enquanto eles me procuravam.

Não sei quem me achou, mas pela primeira vez minha mãe me bateu e meu pai ficou com pena.

Eu não sei se apanhei por causa do guarda-roupa queimado ou por ter feito eles me procurarem por tudo quanto era lado.

Meu pai achou que eu tinha ido para o rio e, quando me achou, não sabia o que fazer, só ficou me olhando apanhar.



         O temporal


 Sandra Lúcia Sebastião da Silva
Quando eu era menina, por volta dos meus doze anos, morava em um tranquilo bairro chamado Cantão, na cidade de Barra do Piraí. Como era costume naquela época, todos os vizinhos se davam bem, preocupavam-se uns com os outros.

 Lembro-me de uma vizinha muito especial, que nós chamávamos de dona Tita. Ela era uma pessoa muito sábia e, como toda pessoa mais velha naquela época, era cheia de superstições. Uma delas era o hábito de benzer a chuva, para que não caísse muito forte. Acreditem ou não, todas as vezes dava certo.

No entanto, nunca me esquecerei de um dia quando um grande temporal se aproximou e dona Tita não estava em casa para benzer a chuva. A chuva foi tão forte que derrubou parte da casa dela.

Meu primeiro presente
Solange Miranda Souza

No ano de 1968, no bairro de Guadalupe, morávamos em um apartamento com meus pais e onze irmãos. Eu sou a décima filha.
Eu tinha oito anos quando meu pai comprou duas bonecas de presente de Natal, uma para mim e outra para minha irmã. Assim que ele chegou do trabalho com duas enormes caixas, minha irmã foi abrindo uma delas e, quando eu vi a boneca dela, fiquei maravilhada: era uma boneca branquinha, com um vestido lindo e o cabelo lourinho.
Peguei a minha caixa e fui rasgando o papel. Quando abri, me deparei com uma boneca preta, de corpo de pano, cabeça, braços e pernas de plástico, o cabelo pretinho e com um lacinho. Fiquei decepcionada e comecei a chorar. Toda vez que eu olhava para a boneca, me desesperava. Era uma lembrança triste.
Minha mãe pegou a boneca e guardou. Minha mãe era uma pessoa muito calma e bondosa, com seu jeito simples de ser.
Os anos se passaram e não tive mais contato com a minha pretinha, a boneca.
Quando casei, minha surpresa foi que minha mãe, depois de tanto tempo, me entregou a boneca. Foi uma emoção tão grande! E uma lembrança alegre. Aquele sentimento ruim que eu tinha em relação à boneca não sentia mais.
Agora, fico triste em lembrar que perdi o meu primeiro presente dado com muito amor e carinho.
Sinto saudade dos meus pais, que hoje não fazem parte mais desse mundo. Ficou uma triste lembrança guardada na memória: minha boneca preta, meus pais e meus irmãos já falecidos.
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Resgatando Memórias
 Convidados especiais:
Wanderley José da Silva   e   Janeth da Rosa Vieira
No dia 30 de julho, recebemos duas pessoas ligadas à antiga história do prédio que abriga o IFRJ - Campus Engenheiro Paulo de Frontin, convidadas pela turma: Wanderley José da Silva e Janeth da rosa Vieira. Ele foi funcionário da antiga escola e ela foi aluna.
Vamos conferir um pouco do que eles nos disseram:
 Janeth 

Você poderia se apresentar?

Eu sou Janeth, professora aposentada da rede municipal. Sou formada em Pedagogia e moradora de Sacra Família.
Qual é sua relação com a antiga escola?  
Fui aluna aqui da quarta até a oitava série. Entrei com nove anos, em 1974. Naquela época, era a única escola da região que oferecia o ensino de 5ª a 8ª séries. Esta escola foi tão importante para mim que retornei, no Curso Normal, para fazer meu estágio aqui.
Fale um pouco sobre a escola.
Era uma escola muito boa. Havia os internos (meninos) e os alunos externos (meninos e meninas). Tínhamos um convívio harmonioso. No recreio, meninos e meninas ficavam separados. Havia animais, horta, para o consumo da escola. Havia fartura. Havia também muita organização e civismo. Rezávamos e cantávamos o Hino Nacional todos os dias, antes das aulas. Aprendíamos alguns valores muito importantes, que levei para minha vida: respeito pelos professores, vontade de
 estudar, busca de um futuro melhor, respeito às regras.
Você tem boas lembranças daqui?
Tenho várias lembranças boas. Lembro-me de uma broa de milho, que era distribuída apenas para os internos. Essa broa era deliciosa. No recreio, pela grade, trocava o biscoito que trazia pela broinha dos internos. Não posso esquecer também a história do “para-pedro”, um boneco que ganhei aqui. No final do ano, todas as alunas ganharam um boneco. Tinha doze anos e achava que era grande para ir para casa com um boneco daquele nas mãos. No caminho, fiquei com tanta vergonha, que ia jogando o “para-pedro” no mato a cada carro que passava. Mas, em casa, foi diferente: amei aquele boneco!
Você poderia destacar um momento marcante vivido aqui?
Ter estudado aqui foi muito marcante. Vou citar minha formatura de 8ª série, um momento especial, foi maravilhosa. Nesse dia, eu senti a certeza de ter cumprido meu papel aqui e a tristeza por deixar um lugar onde fui feliz por cinco anos.

Deixe uma palavra final:
"Meninas, valorizem a experiência de estar aqui, a experiência de aprender."
Wanderley
Você poderia se apresentar?
Eu sou Wanderley, funcionário aposentado da escola, onde fiquei de 1961 a 1992. Sou morador de Morro Azul.
Qual é sua relação com a antiga escola?
Trabalhei aqui 32 anos, tive nove promoções por merecimento, morei aqui dentro por 24 anos. Comecei como encarregado de Agropecuária, pois até 1969 aqui era uma escola agrícola, com horticultura, suinocultura, bovinocultura etc. Não vi a “criança nascer”, a escola começar, mas vi a “criança crescer”. Trabalhei no almoxarifado, como encarregado de secretaria, como coordenador de disciplina, como assistente de administração escolar.
Fale um pouco sobre a escola.
Chegamos a ter 450 alunos internos e uns 200 externos, da comunidade. Era uma escola modelo. Recebíamos menores carentes, em sua maioria. Conseguíamos educá-los sem armas, com educação e trabalho. Não tínhamos nem cercas, elas chegaram depois. Todos eram alunos do ensino formal em um turno e, no outro, aprendiam algum ofício e trabalhavam. Tivemos momentos muito bons aqui: tínhamos uma grande criação de animais e uma horta imensa. Tínhamos as melhores instalações esportivas da região: piscina, quadra, campo, pista de atletismo. Muitos eventos esportivos eram realizados aqui, envolvendo a comunidade. Nossa banda era maravilhosa, formamos muitos músicos aqui. A estrutura da escola era muito boa, com dormitórios, igreja, posto médico e odontológico. Na parte profissionalizante, tivemos inúmeras oficinas: elétrica, tornearia, ajustagem, artes gráficas, mecânica de automóveis, corte e costura, marcenaria. Ficamos sabendo de muitos ex-alunos que conseguiram ganhar a vida com a formação que tiveram aqui.
Você tem boas lembranças daqui?
Muitas. Aqui éramos uma família. Até os anos 70, éramos uns 80 funcionários, unidos, preocupados uns com os outros. Nossas festas de fim de ano eram maravilhosas.
 Você poderia destacar um momento marcante vivido aqui?
Em 32 anos, foram muitos os momentos marcantes. Vou destacar três: as promoções por merecimento que tive; o nascimento dos meus filhos (pois morava aqui na escola nesse período) e o privilégio de trabalhar em um grupo que era como uma família. Aprendi aqui, com o Frei Maurício, que a vida é como um pecuá: sempre se põe na frente o peso menor. Ou seja: temos que nos preocupar mais com os mais fracos, com os que estão precisando de nossa ajuda.


Deixe uma palavra final:
"Eu vi essa escola crescer muito. Agora, quero que vocês continuem dando passos para que essa história continue..."

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II-       Histórias Ouvidas



A boneca de ouro


Conta a lenda que havia uma boneca de ouro numa montanha, que aparecia à noite. Todos queriam muito pegá-la, principalmente as crianças.


Mas pegar a boneca não era fácil! Era muito difícil e perigoso: era preciso enfrentar vários perigos, pois no caminho poderia aparecer cobra, ladrão ou alguma assombração.


Quem quisesse pegar a boneca tinha que pegar uma faca e um pano virgem, cortar o dedo e pingar três gotas de sangue sobre o pano. No caminho, a gota de sangue protegia das mordidas dos bichos peçonhentos.


Ao chegar lá, no alto da montanha, alguns conseguiam pegar a boneca, envolvida numa bola de fogo. Voltavam muito felizes para casa com ela. No caminho de volta, não havia necessidade de ter medo, pois a boneca protegia quem estivesse com ela de qualquer perigo.


Mas em casa, vinha uma grande decepção: a chama se apagava. A boneca era uma assombração, iludindo as crianças que queriam pegá-la!
Denise, Ivonete, Leila e Maria do Carmo

Denise, Ivonete, Leila e Maria do Carmo



Estripulias do Saci

Quando era pequena, meu pai contava que logo que se casou veio morar em Sacra Família. E todas as noites, ao se aproximarem as doze badaladas da meia-noite, começava a ouvir o latido forte dos cachorros do sítio. Ouvia também os cavalos correndo desesperados, sendo chicoteados.

Ele não entendia o que acontecia. Meu pai passou a prestar atenção e percebeu, pela manhã, que os cavalos amanheciam cansados e com as crinas trançadas.

Sabem o que ele descobriu? Era o Saci que aparecia e aprontava!

Com muita oração, meu pai conseguiu se livrar desse tormento!

Ana Avena, Maria de Lourdes, Maria Lucia, Raimunda e Sandra




O fantasma que sente dor


O primo colocou um lençol na cabeça para assustar as primas pequenas que brincavam na sala. E corria dizendo:

- E o bicho vai te pegar!

Uma das meninas, muito assustada, pois já era noite, teve uma ideia. Pegou a lata de flit e bateu na cabeça do fantasma! O sangue logo escorreu. A menina gritou:

- Matei o bicho!

Final da história: o fantasma, que chorava com muita dor, foi levado para fazer um curativo.

 Adriana, Beatriz, Edineuza, Elizangela e Graça




O pé de chinelo



Há muitos anos atrás, as pessoas antigas contavam histórias verdadeiras.

A minha avó contava para os filhos dela a história do Pé de Chinelo. Mas, na verdade, era o Lobisomem que, quando se transformava, fazia um barulho muito esquisito: Chilepe, chilepe... Ela deu esse nome para não assustar as crianças.

Ela contava que ouvia barulho atrás de casa, onde existia um galinheiro. Todas as noites em que havia lua cheia, o barulho aparecia.

Então, as crianças, muito curiosas para saber o que era, perguntavam para minha avó:

- Que barulho é esse? Chilepe, chilepe...

E ela respondia:

- É o Pé de Chinelo!

Minha mãe foi crescendo ouvindo esse tipo de história. Depois, foi passando para nós. Nessa época, a gente só ouvia histórias que aconteciam de verdade, como essa que, hoje, são escritas como lendas.

Ana Maria, Anastácia, Celia, Elaine e Eliane




O pé de mexerica

Era uma vez uma senhora muito pão-dura, que tinha em seu quintal um belíssimo pé de mexerica. Só que ela não gostava de dar a fruta para ninguém.

Um certo dia essa senhora veio a falecer. Meu pai, passeando por lá, resolveu pegar mexerica. Enquanto ele pegava, ia debochando da senhora já falecida e enchendo a bolsa. Quando saiu, falou:

- Quem vai me impedir agora de levar as frutas?

Quando estava indo embora, olhou para trás e viu que havia um lençol que o acompanhava. E quanto mais ele andava, mais o lençol crescia. Quando chegou na passagem da casa dele, havia uma cerca de arame para atravessar. Como ele tinha que se agachar para passar, pensou:

- Quero ver esse lençol passar!

E o lençol foi diminuindo, atravessou a cerca e o levou até a porta de casa.

Nunca mais ninguém quis saber de pegar mexerica nesse pé!

Ângela, Maria Aparecida Sotero, Michele, Simone, Sonia Bastos e Sonia Regina







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I-       Histórias Vividas
Blusa Amarela

Quando era mais jovem, eu, minhas irmãs e amigas costumávamos passar alguns feriados em Ubatuba, na casa da Maria, amiga de minha mãe.
Eu tinha uma blusa amarelo ouro, em volta do bolso era colorido de vermelho e azul, eu a adorava. Num feriado, resolvemos ir para a casa da Maria. Sua casa era do outro lado da praia, bem próxima à encosta. Um lugar muito bom naquela época.
Num dos dias que estávamos lá, lavei a blusa amarela e pendurei no varal da garagem, junto com outras roupas. À noite, o pai da Maria, que era caseiro e morava do outro lado da praia, chegou lá pra pegar uma enxada, pra terminar de capinar a casa em que trabalhava. Um pouco antes de dormir, Maria foi à garagem e percebeu que minha blusa amarela não estava mais pendurada no varal, só tinha ficado o lugar vazio dela.
Minha blusa tinha desaparecido, fiquei tão triste! Não entendíamos como ela tinha sumido. Naquela noite eu dormia e acordava pensando nela.
No outro dia, por volta das seis horas da manhã, estávamos todos dormindo quando seu Brás chegou no portão e gritou:
– Maria do céu! Eu atravessei a praia inteirinha com um negócio amarelo pendurado na ponta da enxada! Quando cheguei em casa, percebi que era uma blusa amarela, que tinha saído do varal e ficado enroscada na ponta da enxada.
Ah! Pulei da cama tão feliz, pois a blusa de que tanto gostava tinha finalmente aparecido!
(Maria Aparecida de Oliveira Silva)


A Pimenta

Quando eu tinha entre sete e oito anos, minha mãe trabalhava muito na roça e deixava meus dois irmãos pequenos comigo, pois eu era a filha mais velha.
Minha irmã era muito manhosa, eu fazia de tudo para ela parar de chorar. Como ela não parava, eu peguei uma pimenta e dei pra ela, aí mesmo foi que ela chorou.
Minha mãe chegou e perguntou o que tinha acontecido. Eu contei. Resultado: tomei uma surra danada!
(Maria de Lurdes Gomes)

Lembranças do Passado
Minha infância foi feliz porque brincava muito com meus irmãos. Lembro das brincadeiras: bandeirinha, pique-esconde, pique-tá e garrafão.
Ajudava muito minha mãe. Comecei a lavar roupa pra fora com onze anos, para ajudar a comprar roupas para meus dois sobrinhos, que eram criados pelos meus pais. Mas o que eu mais gostava era ajudar meu pai, só para estar mais perto dele. Lembro com muitas saudades do meu pai: ele era bom, amigo, companheiro, compreensivo.
Era uma época em que a televisão era coisa de classe média e meu pai, assalariado e com muitos filhos e criando netos, não podia comprar. Mas lembro quando meu pai recebeu um dinheiro e foi comprar nossa primeira televisão. Meu irmão a trouxe nas costas muito feliz. Foi um dia de alegria. Mas, com a televisão, perdemos nossas brincadeiras de antes, quando costumávamos nos reunir e ver meu pai contando anedotas, fazendo adivinhações, cantando e dançando. Era muito bom.
(Maria Aparecida da Silva Sotero)

Um Pouco da Minha Vida
Quando tinha sete anos, minha mãe me colocou no colégio junto com meus irmãos. Foi muito difícil. O colégio era muito longe, não tinha condução, morávamos na roça. Não aprendi nada no colégio. Só com catorze anos aprendi a ler e escrever. Eram tempos difíceis pra mim, tinha que trabalhar em casa, fazer de tudo e tomar conta da casa.
Com dezesseis anos, conheci um rapaz. Gostava muito dele, mas minha mãe não deixou que namorássemos porque ele não trabalhava. Minha mãe era muito brava, quase fugi de casa. Meu pai era melhor, me apoiava muito. Meus irmãos foram por caminho errado e faleceram quase todos.
Eu lutei muito para estar aqui hoje. Com dezoito anos conheci outro rapaz. Esse minha mãe permitiu que namorasse, ele trabalhava. Mas eu não gostava dele como do outro. Fazer o que, não tinha outra opção. Namorei dois anos, fiquei noiva com vinte anos e casei.
Aí minha vida foi mudando para melhor. Estou casada há trinta anos, estou feliz, tenho três filhos, três netos. Isso deixa minha felicidade completa. Hoje não tenho nada a reclamar, só tenho que agradecer a Deus por tudo que passei na vida. Tenho muitas amigas, amo meu marido.
(Denise da Silva Ramos Sirollo)
O Enterro
Se não fosse trágico, seria cômico...
Um dia comum, sexta-feira, 23 de junho de 2006. Estava no trabalho e recebi um telefonema, informando que meu esposo estava se sentido mal no pátio da escola de minha filha. Ao chegar lá, constatei seu falecimento.
A seguir, chegou um sobrinho dele, querendo pagar o funeral. Mas uma sobrinha que estava para se casar, não queria. Eu relutava, dizendo que não precisavam se preocupar. Finalmente, conseguimos chegar a um acordo.
No dia do enterro, na hora de fechar o caixão, o filho de uma amiga, de sete anos, de origem judia, pergunta:
– Para onde ele (o falecido) vai?
– Para o céu – disse a mãe.
E ele, em voz alta:
– Quero ir também.
Na hora do sepultamento, no Jardim da Saudade, o mesmo menino pergunta:
– Se ele vai para o céu, por que está descendo?
Foi uma risada só, cada um querendo não ser ouvido, mas sem poder esconder!
(Graça Maria de Carvalho)


 Lembrança Inesquecível 

Em um belo dia de carnaval, minhas amigas me ligaram e me chamaram para ir com elas em Miguel Pereira. Combinamos em ir vestidas com algo diferente. Resolvemos ir de baby-doll e usando uma chupeta.
Chegando em Miguel Pereira, começamos a nos divertir. Apareceram dois meninos, querendo um ficar comigo e o outro com a minha amiga. Nós fomos conversar com eles e os meninos falaram que queriam um compromisso sério. Achamos que era zoação, mas não era.
No outro dia, eles foram pedir para namorar em casa.
(Michele Oliveira Silva)


Meu Primeiro Dia de Aula
 Eu tinha cinco anos quando entrei na escola. Era pequenininha e um pouco medrosa. Daí chegou a hora de entrar na salinha, bonitinha, toda enfeitada.
Quando entrei, minha mãe foi embora. Eu chorei muito, muito. Eu até fugi da sala. Veio inspetor, me pegou e colocou dentro da sala. Aí ele trancou a porta para eu não sair.
A partir daí, eu gostei de meus colegas e não quis mais sair da escola. Vi também que era muito importante para mim e para o meu futuro.
 (Jaqueline Ariane da Silva Pantaleão)

A minha História

Quando eu completei vinte anos, eu fui estudar em um colégio “especial”, chamado Benjamin Constant, para pessoas com problemas visuais. E aí começou minha vida. Até então eu achava tudo normal.
Pra mim foi importante, pois conheci pessoas e fiz amizades. Mudei muito, não tanto quanto gostaria.
 Mas consegui andar com as minhas próprias pernas. Hoje eu faço coisas que achava que não faria. Sei ir para vários lugares sozinha, sinto mais “independência”. O meu maior problema é me sentir só.
Sofro muito preconceito às vezes e nem ligo. Às vezes, levo na base da esportiva e sei me virar sozinha ou com os meus filhos. Não dou muito importância para o que os outros falam. Às vezes sou feliz, outras não.
Neste momento eu não tenho estado feliz. Motivo? Não me importo!

 (Michele da Silva Santos)
Minha Irmã

Esta é a história que acontece com minha irmã Marcela há quinze anos. Tenho dois irmãos. Sou a mais velha e ela a mais nova. Até completar quatro anos, Marcela era uma menina saudável, sem problema algum. A partir daí, começamos a notar que ela era torta para um dos lados. Minha mãe a levou a um ortopedista e, com o exame de Raio-X, ele detectou que ela tinha um problema, mas não sabia ao certo o que era. Mesmo assim, ele queria operá-la, mas minha mãe não deixou.
O ex-patrão de uma tia conseguiu levar minha irmã ao Hospital dos Bombeiros no Rio de Janeiro, onde trabalhava um irmão dele, que é ortopedista. Ele diagnosticou escoliose congênita, um problema que só tem “cura” com cirurgia. Ele, então, a encaminhou para o INTO, um hospital público, especializado em ortopedia. Nesse hospital, uma médica disse que ela não poderia ser operada por ser nova demais. Receitou um colete, que não era barato. Fazíamos bicos, alguns membros da família ajudavam como podiam e, assim, ela usou o colete por anos e anos. Até que a médica percebeu que não estava fazendo efeito. Ela parou de usá-lo e passou a ir ao hospital uma vez por ano para ser avaliada. Trocou de médico.
Começou a sentir cansaço, falta de ar, entre outras coisas. Ela vivia da escola para casa. Ficava no quarto, dormia o tempo todo. Em dezembro do ano passado, foi mais uma vez para consulta e questionou o fato de estar há seis anos na fila de espera para cirurgia e permanecer sempre no 15º lugar. Minha mãe quis saber qual seria a consequência se ela não operasse. O médico disse que ela iria para uma cadeira de rodas e cada vez mais sentiria falta de ar, pois os órgãos do lado com a deficiência estavam sendo comprimidos.
Marcela é muito estudiosa. Fez o concurso de Vassouras para professora e passou em 1º lugar, mas teve que pedir adiamento de posse, pois não havia concluído o curso de Formação de Professores. Passou no vestibular para um curso a distância, fez vestibular para a Universidade Rural e passou. O sonho dela é estudar na Rural, mas o curso de letras é à noite e, felizmente, ela foi chamada para fazer os exames pré-operatórios para a cirurgia, que deverá ser realizada em fevereiro.
Apesar de tudo, ela é uma pessoa feliz. Ela já chorou muito, tem cicatrizes do colete e, como não podia tirá-lo para nada, falava sempre: “Por que comigo?”

(Elaine Carvas)
Susto
Bom, a história que tenho para contar é realmente verídica. Eu e uma amiga fomos visitar um hospital de doentes mentais chamado Doutor Eiras, onde meu pai trabalhou por muito tempo como porteiro.

Bem, vamos ao que aconteceu: eu e minha amiga compramos cigarros e biscoitos porque sabíamos que os pacientes gostavam. Distribuímos os cigarros e biscoitos e estávamos caminhando pelo campo quando, de repente, sentimos que tinha um paciente nos acompanhando. Começamos a apertar os passos e ele também. Decidimos correr. Olhamos para trás e vimos que ele também estava correndo. Corremos muito. E ele também. Ficamos muito cansadas, paramos, não conseguíamos mais correr. Até que ele conseguiu nos alcançar e falou exatamente assim: “Está contigo!”

Moral da história: ele estava brincando de pique conosco.

(Pedrina Ramos da Silva)





História de Infância



Eu era muito pequena, mas lembro bem. Morava com minha irmã e minha mãe num sítio perto da linha do trem Maria Fumaça. Gostava de ver ela passando, apitando, soltando fumaça. Que saudade! Ficava imaginando para onde ela estava indo, esperava por esse momento como se espera por um brinquedo.
Eu e minha irmã brincávamos muito. Tínhamos um cachorro chamado Perigo. Ele era amarelo e branco, lindo. Minha mãe cuidava da plantação e dos porcos que eram muitos. Tinha pena da minha mãe.
Eu e minha irmã cuidávamos das cabras, levávamos e buscávamos no pasto. O Perigo ia com a gente. Minha irmã, muito alegre, deitava no chão e mamava nas cabras. Ríamos muito, pois era muito engraçado.
Meu irmão, que trabalhava e morava na cidade, veio um dia, trouxe guaraná, pé-de-moleque e balas, coisas gostosas que nunca havíamos experimentado antes, com sabor jamais sentido.
Doces lembranças, muitas saudades.
Minha mãe era mil.
(Ana Maria da Rocha Cândido)


Vida Vivida


Tinha lá eu uns dez anos e lembro perfeitamente da minha avó que gostava muito de cuidar da roça. Ela plantava, capinava, roçava, enfim, era muito trabalhadeira. Levantava muito cedo. Quando o galo cantava, lá estava ela, mesmo com chuva. Lembro-me bem que tínhamos muitas criações.
Meu pai saía cedo para trabalhar. Ele trabalhava na rede ferroviária, onde se aposentou. Minha mãe, por sua vez, também levantava muito cedo, pois tinha que acender o fogão, que era de lenha, para fazer comida, enquanto dormíamos, pois meu pai levava marmita. Ainda dormindo, sentíamos o cheirinho gostoso daquele tutu de feijão bem fresquinho e aí levantávamos, pé por pé, um atrás do outro, para raspar aquela panela. Minha mãe brigava, dizendo: “Vão dormir, crianças, queria eu estar no lugar de vocês!” Só que meu pai respondia: “Ó Maria, dá um pouquinho pra eles”. Daí, nós todos comíamos e voltávamos para dormir mais um pouco, pois ainda eram quatro horas da manhã. Minha mãe não voltava mais pra cama, coitada. Já começava suas tarefas diárias, pegava a bacia cheia de roupas, ia lavar, preparar o almoço, nos colocar para a escola.
Às dezoito horas, todos nós já tínhamos tomado banho e estávamos ouvindo a Ave-Maria. Depois jantávamos e aí é que ficava bom. Era cedo para nós, crianças, irmos deitar. Então, ficávamos pedindo à vó Augusta para contar histórias. Coitada! Depois de um dia todo trabalhando na roça, ainda tinha que contar histórias para nós. Ninguém gostava do cheiro do seu cachimbo, mas, quando estávamos interessados na história, não sentíamos esse cheiro. Ela fazia questão de acender o cachimbo e, quando a história estava pegando fogo, ela cochilava. Aí, um balançava, outro a chamava. E eu acendia o cachimbo e dava umas pitadas, pois sabia que ela não gostava, mas era só pra ela ficar acordada.
Até hoje eu guardo muitas coisas que ela nos dizia. Se era lenda ou não, eu não sei, mas sei que era muito bom. Obrigada, vó Augusta, pois hoje posso contar histórias para meus netos. Valeu a pena.
(Ângela Maria Ferreira Costa)


Eu Lembro...


Quando era criança, lembro que adorava brincar de boneca com minha irmã.
Meus pais sempre trabalharam em sítios como caseiros e, nesse tempo em que estavam trabalhando, aproveitávamos para plantar.
Minha mãe antes de sair pedia: “Meninas, arrumem a casa pra mim, por favor.” E nós falávamos: “Tá bom, mãe”. Só que eu e minha irmã não queríamos saber de trabalhar, era só brincar. A farra era tão boa que nós nos esquecíamos de nossa obrigação.
Nesse sítio em que morávamos, tinha uma jaqueira enorme que nós fingíamos que era um ônibus. Subíamos nos galhos mais grossos e deixávamos a imaginação nos levar, até bolsa com roupa de boneca levávamos.
Quando chegava uma visita lá em casa, eu não deixava entrar porque a casa ainda não estava arrumada. Eu sempre pedia pra esperar, pois eu iria arrumar a casa. Ainda bem que eram pessoas simples como eu e nem se incomodavam quando pedia pra esperarem do lado de fora.
Quando minha mãe chegava, ela elogiava a casa arrumadinha. Mal sabia ela que eu só tinha arrumado a casa porque tinha chegado visita. Caso contrário, a casa continuaria bagunçada até minha mãe chegar. Afinal, eu não queria perder um minuto trabalhando. Era um tempo bom, pena que crescemos rápido e paramos de brincar de boneca.
(Simone Rosa Morais)

História de Amor de João e Orminda

Esta, como já diz o título, é uma linda história de amor, que aconteceu com meus pais no ano de 1925. Quando eles se conheceram, ah ..., foi amor à primeira vista: tão lindo que minha mãe sentia prazer em nos contar o fato.

Quando meu pai chegou à casa de meus avós, viu no pomar uma linda moça. Nesse exato momento, aconteceu um longo e apaixonado olhar, foi amor à primeira vista. Então chegou meu avô, senhor José, que vendo aquele rapaz forte e de boa aparência pensou: “Esse é um bom rapaz para namorar minha filha mais velha, Prudência”. Mal sabia meu avô que não era isso que o destino lhe reservava.

Naquela época, era comum o pai oferecer a filha mais velha em casamento. Meu avô disse à minha avó Augusta: “Chame a Prudência para conhecer o rapaz”. Meu pai não estava entendendo nada. Foi apresentado à minha tia Prudência. A decepção do meu pai foi de cem por cento. Porém, sempre muito inteligente, quando notou a intenção do meu avô, deu a desculpa de outro compromisso e foi embora. Entretanto, foi triste e preocupado em saber como resolveria a situação.

Montou em seu cavalo e saiu a galopar e a pensar: “Como farei? Gostei da menina linda e ele me apresentou a mais velha!”. Pobre papai, foi para casa e não dormiu. Mas valeu a pena. Pela manhã, ele já tinha a solução: apresentaria ao senhor José seu amigo Josué. E o fez logo pela manhã. Por sorte, foi tiro e queda: Josué foi apresentado e se enamorou de Prudência.

Meu pai pode então apreciar minha mãe quando ela serviu café aos visitantes. Ele ficou deslumbrado e mais apaixonado ainda ao ver de perto sua paixão. Foi aí que criou coragem e pediu ao meu avô para namorar minha mãe. Meu avô consentiu e foi tão intenso e sincero o amor que, depois de seis meses, eles se casaram e foram felizes por mais de cinquenta e oito anos.

Resultados dessa “história de amor”: quinze filhos, sendo oito mulheres e sete homens, criados com muito carinho, muito amor, crendo muito em Deus. E sempre ouvindo a linda história de amor de João e Orminda.

(Maria Tone de Souza)
Sonhando com Papai Noel


Eu não tive infância, minha família foi muito pobre. Não tive tempo de brincar, não fui criada com meus pais.

Passei a vida sonhando com Papai Noel, mas chegava dezembro e ele não vinha. Só me restava esperar outro dezembro.

(Maria do Carmo Ambrosio)



Uma Encantadora Árvore de Natal


Vou lhes contar uma história tão envolvente que encanta a gente.

Meus pais trabalhavam em um sítio em Morro Azul, onde nascemos e crescemos. Éramos sete irmãos ainda criança e, como crianças, quase tudo nos encanta.

Esse sítio se chama São José e tinha por proprietárias cinco irmãs, sendo que só uma comandava: a Dalila. Ela era uma pessoa complicada e, às vezes, um pouquinho carinhosa. Não tínhamos muita liberdade quando ela estava no sítio. Não podíamos comer nenhuma fruta nem brincar, pois ela brigava. Entre essas frutas, havia morangos, que adorávamos comer com leite Ninho e açúcar. Dávamos um jeitinho pegando escondido e logo fazíamos nossa festa.

Em nossa humilde residência não havia televisão, só um rádio, onde escutávamos as notícias e as novelas da época.

Quando vinham visitas no sítio, ficávamos todos contentes, pois traziam bolos, doces, balas e refrigerantes e, de vez em quando, ofereciam pra gente.

Essa patroa tinha uma linda árvore de Natal e um presépio de animais que encantavam tanto a gente que chegávamos a chorar de alegria ao se aproximar o Natal, vendo o espetáculo daquela árvore que brilhava como ouro vista da varanda da casa da patroa, por uma porta toda de vidro.

O tempo se passou e a alegria de ver o Natal chegando nos fez perder o encanto pela bela árvore. Ela, ao ver nosso desinteresse, nos deu a árvore e o presépio de presente. Mas logo chegou nossa juventude e doamos a árvore para um tio nosso. Mas essa envolvente história ficou guardada para sempre em nossas mentes.

(Ana Cristina Avena)


  Casa da Vovó

 
Minha querida vó Ceda conta tantas história sobre minha infância que é muito gostoso lembrar.
Eu, aos dois meses, era tão durinha que ficava na palma da mão de minha mãe. Minha vó fala que ela não tinha juízo. Quando minha mãe chegava, minha vó perguntava por mim e ela dizia: “Ué, está aqui!” E abria a bolsa e eu estava lá dentro, toda sorridente.
 

Ela conta que aos nove meses eu sumi. Todos foram me procurar e me acharam em cima de um pé de goiaba. Aos dois anos, me colocaram em cima do galinheiro e eu, sem nenhum medo, fiquei lá para que tirassem fotos. Fui crescendo e sempre que podia ia pra casa de minha vó. Brincava muito, subia nos pés de frutas, andava de charrete, ficava olhando meu pai e meu avô tirar leite.

Que saudades daquele tempo!

(Adriana Barbosa)

Cachaça e Marimbondos

Quando eu era criança, gostava muito de brincar, mas nem sempre podia porque morava com minha tia e tinha que ajudar nas coisas da casa.

Era muito engraçado quando, eu e meus primos e primas, saíamos escondidos para brincar de escorregar no morro. Rasgávamos as roupas e depois apanhávamos. Aí ficávamos rindo de quem tinha apanhado mais.

Um dia pegamos a garrafa de cachaça do meu padrinho e começamos a beber. Os mais espertos fingiam que bebiam. Já os outros bebiam muito mesmo. Depois, foi criança passando mal pra todo lado.
   Outro dia, uma brincadeira estúpida me fez chorar. Meus primos me chamaram para ver um ninho de passarinhos. Chegando lá, era uma casa de marimbondos. Eles jogaram uma pedra e saíram correndo. Eu fui a única que se deu mal. Fiquei toda mordida e inchada. E eles ficaram todos rindo de mim.


 (Elisangela Teles Manso)

    



Passeio ao Rio de Janeiro

No último ano do curso de Formação de Professores, fizemos um passeio ao Rio de Janeiro. Primeiro, fomos visitar o navio Barão de Mauá. Foi muito legal. Depois fomos ao Barra Shopping, a turma estava eufórica e ainda encontramos, no shopping, com o ator Raul Gazola. As meninas quiseram tirar fotos e pediram autógrafos, mas não conseguiram. Ele é muito antipático, disse que não dava autógrafos às segundas-feiras e, para azar delas, era segunda-feira. Ficaram chateadas, mas a euforia continuou.

Fomos à praia à tarde e o sol já estava quase se pondo. Assim mesmo algumas entraram na água, jogaram areia umas nas outras e ainda enterraram uma colega na areia. Foi um dia muito divertido!
(Maria Cristina Gomes da Silva)



Meus Quinze Anos Vezes Quatro
Certo dia, contei para minha filha que eu não tive festa de quinze anos, porque, na época, meus pais não tinham condições financeiras.

Ela, então, resolveu fazer de surpresa: meus quinze anos vezes quatro, ou seja, meus sessenta anos. Convidou meus familiares e amigos. A festa foi ótima! Teve até lembrancinhas (nariz de palhaço, saquinho surpresa, preservativos).

Me senti mesmo como se tivesse quinze anos. Dancei muito! Brinquei, pulei! Me diverti a valer! Só no dia seguinte que percebi que não tinha mais quinze anos (doía tudo). Foi uma festa que não esquecerei enquanto viver!


(Rojane Reis de Oliveira)



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Visita da  professora Maria Clara Motta Schmidt

O programa Mulheres Mil recebeu a visita da professora Maria Clara Motta Schmidt, dia 24 de janeiro, para uma atividade do projeto “Um baú de histórias”, desenvolvido pela disciplina Texto: Leitura e Produção.
Na visita, a professora aposentada, de 65 anos, nascida em Engenheiro Paulo de Frontin,  atualmente Vice-Prefeita da cidade, destacou a importância da memória e as mudanças no papel da mulher.


O nome da cidade é Rodeio ou Engenheiro Paulo de Frontin?
R: Dizem que a nossa cidade é a única que possui apelido. O nome Rodeio surgiu a partir do nascimento do povoado e é o nome mais antigo da cidade. Este nome está relacionado ao fato de se fazer aqui rodeio de gado destinado à Corte.  O bairro da Barreira tem esse nome porque ali era cobrada uma taxa correspondente ao número de cabeças de gado que ali passava. Não se pode esquecer que aqui era um local de passagem para quem vinha do Rio de Janeiro e ia para Minas Gerais. No bairro da Graminha, passava a Estrada Imperial.

E o nome Engenheiro Paulo de Frontin, como surgiu?
R: Em 1946, Rodeio ainda distrito de Vassouras, passou a chamar-se Engenheiro Paulo de Frontin, em homenagem ao brilhante engenheiro André Gustavo Paulo de Frontin. Foi ele o responsável por muitas obras importantes, entre elas a duplicação da linha férrea que liga Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Nela, ele abriu numerosos túneis entre os quais o Túnel 12, na nossa cidade, com aproximadamente 2,5 Km de extensão. A biografia dele é motivo de orgulho para os moradores da cidade.

Que momentos você destacaria no passado da cidade?
R: Antes da TV, as famílias conversavam muito. Meu pai nos contava muito sobre o passado. Apesar de pertencer a Vassouras, nossa cidade possuía uma vida industrial mais forte que a da sede. Três fábricas se destacavam, garantindo muitos empregos e renome para o Distrito. Eram as fábricas Adrianino (fogos), Lemgruber (artigos de borracha) e a Ferrini (guarda-chuvas e sombrinhas). Da fábrica Lemgruber eu me lembro dos bonecos e bicos (chupetas). Meu pai trabalhava lá e trazia para casa estes bonecos, que eram feitos de plástico, eram bem simples,  para que nós déssemos uma pintura no rosto e ganhássemos um dinheirinho. Lembro também das festas na cidade e das inesquecíveis queima de fogos. Na festa da Padroeira, no último dia havia uma queima belíssima. O Grupo Musical 28 de Fevereiro tocava “Saudades do Rio” enquanto queimavam os fogos. Apesar de o espetáculo de Copacabana ser muito famoso, minha primeira ida lá foi meio decepcionante, pois, em minha memória, a queima de fogos de nossa cidade era mais bonita. Nessa época, ninguém precisava de relógios em Paulo de Frontin. A fábrica Ferrini marcava os horários dos funcionários e guiava a vida na cidade. Nesse período de apogeu, a arrecadação não ficava aqui, ia para Vassouras.
 Quando ocorreu a emancipação de Paulo de Frontin?
R: O movimento de emancipação foi apoiado por muitos moradores da cidade que elegeu seu primeiro prefeito, Roger Malhardes. No entanto, por um erro no processo de emancipação, ela foi anulada. Todavia o povo não se conformou, e novo processo emancipacionista foi conduzido. Um plebiscito foi realizado com esmagadora maioria de aprovação, sendo novamente eleito como prefeito Roger Malhardes e criado definitivamente o município, mostrando que o nosso município era capaz de lutar por seus interesses.

Você destacaria algum nome importante na história da cidade?
R: Muitas pessoas contribuíram para o crescimento da cidade, mas eu gostaria de destacar a atuação de Nelson Salles e de sua esposa. Na educação, eles tiveram um papel importante com a criação do Ginásio João Batista Ferrini. Na saúde, eles foram os idealizadores e os responsáveis pela construção do Hospital, todo feito com doações e com a força do trabalho comunitário. É importante conhecer a história da criação do hospital, pois ela deve ficar como um símbolo para nós, para vermos que a comunidade organizada pode encontrar soluções para a melhoria da qualidade de vida.

Que perspectivas você vê para o futuro de nossa cidade?
R: Penso que o futuro está ligado a soluções que preservem o meio ambiente. Acredito que o turismo pode ser o nosso caminho para o crescimento econômico e social.






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